sábado, janeiro 05, 2013

Sai um "Expresso"!



Há "Expresso" há 40 anos! E eu "tomo-o", todos os sábados, desde esse dia 6 de janeiro de 1973.

Correndo o risco de voltar a citar-me a mim próprio (a idade tem destas consequências), mas porque não encontrei nada de novo que pudesse configurar uma nota de respeito para com um jornal que faz parte integrante da minha vida adulta, reproduzo o que aqui escrevi, há dois anos, numa outra comemoração do hebdomadário da Duque de Palmela (embora o periódico já tenha abandonado, há muito, a antiga casa de Afonso Costa, acho que ele não se consegue desligar psicologicamente da vizinhança do Pabe).

Aí vai o texto:

"Hoje, o "Expresso" publica o seu nº 2000 (2000 sábados! Mais de 38 anos!). 

Ao constatar isso, dou-me conta de uma outra realidade: nunca deixei de ler nenhum dos números do jornal, desde o seu célebre nº 1 até ao que hoje me chega às mãos. Não falhei um único número. Tenho disso absoluta certeza. 

Em 1973, quando foi criado, o "Expresso" representou um choque de modernidade sem par na imprensa portuguesa (como o "Público" o seria, anos mais tarde, para a imprensa diária). Para além de ter introduzido, entre nós, a "moda" dos jornais semanários (até então, só havia revistas), ao jeito britânico do "Observer" ou do "Sunday Times", o jornal significava a abertura de um espaço crítico que passava as margens formais do regime, estimulando os que, dentro dele, punham em causa o seu percurso e, simultaneamente, abrindo os caminhos possíveis a quem a ele se opunha. O 25 de abril deve alguma coisa ao "Expresso". 

Com a Revolução, o jornal passou a ser uma tribuna determinante, por onde passava - e onde se "fazia" - muita da política portuguesa da época. Tudo o que era opinião relevante teve acolhimento do "Expresso" e muitas das grandes notícias que fizeram sensação foram anunciadas pelo jornal. Navegando num espaço político que, de forma simplificada, poderemos designar como de "bloco central", o "Expresso" cuidou sempre em nunca calar, sectariamente, outros setores. Bem pelo contrário, por vezes deu-lhes uma voz bem superior àquilo que eles representavam ou representam. 

Como disse, li todos os números do "Expresso", embora com desigual atenção. Em Lisboa, porque o compro sempre tarde e sem lugar certo, chego a correr seca-e-meca para encontrar um exemplar. No estrangeiro, chegou-me muitas vezes pela "mala diplomática" a Oslo, a Luanda, a Londres, a Nova Iorque, a Viena ou a Brasília. Mas procurei-o também em Bruxelas ou em Genebra, durante estadas mais prolongadas por essas cidades. Em Paris, compro-o, ainda no próprio sábado, num quiosque perto da Étoile. Se acaso me falha um jornal, movo mundos-e-fundos (e até meto "cunhas", junto de amigos) para arranjar o número que está em atraso. E que leio sempre, nem que seja duas ou três semanas depois. 

Escrevi, fui entrevistado e fui criticado no "Expresso". Nele tive e tenho amigas e amigos, pessoas que muito respeito profissionalmente. Desde logo, o seu fundador Francisco Pinto Balsemão, uma das figuras fundacionais da nossa democracia. 

Durante muitos anos, a leitura do "Expresso" foi-me fundamental e até "urgente". Depois, com o tempo e a concorrência, acho que o "Expresso" deixou, cada vez mais, de ter muitas "caixas" apelativas; pior, passou a gerar (não foi o único) algum sensacionalismo artificial. E passou a ser lido com mais rapidez, com o que isso significa de menor atenção. 

Com todos os seus defeitos - e eles, de certo modo, têm vindo a aumentar*, diga-se, em abono da verdade -, continua a ser um jornal necessário. Eu, pelo menos, com maior ou menor gosto, talvez já por mero vício, não passo sem ler o "Expresso"." 

*Desde o momento em que escrevi este texto, tenho a sensação de que o jornal melhorou substancialmente.

10 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Ao contrário, eu tenho cada vez menos paciência para o ler...e tenho imensas dúvidas sobre a bondade de algumas das suas notícias.
O mesmo me acontece com os Prós e os Contra. Mas este já não vejo há muito tempo!

Anónimo disse...

Eu não "expresso" reservas mas não sou um leitor assiduo do "Expresso". Também porque em Trifoully les Oies onde vivo não temos o quiosque da Étoile como na aldeola de Paris. Leio-o quando posso. É verdade que os cortes nos salários e nas reformas deixam-nos cada vez menos meios para leituras e, antes de diminuir no bife e no pão...
José Barros

Isabel Seixas disse...

E nota-se perfeitamente que o Sr. tem sido imune aos seus efeitos secundários e colaterais aproveitando e auferindo dos efeitos terapêuticos.

patricio branco disse...

lembro me de ler o 1º nº do expresso e de o comentar com amigos. aventurava se em opiniões que não foram cortadas pela censura, quando normalmente o seria,porquê? mas fomos todos de opinião que ali estava algo novo e bom na informação. por qualquer razão nunca comprei regularmente o expresso, sempre o li quando mo emprestavam.
ao contrario, tambem não sei bem porquê, cheguei a assinar o jornal durante 2 ou 3 anos.
louvo o expresso e faço votos para que se mantenha com qualidade e boas vendas. eu leio o online, os titulos e alguma noticia que me interesse mais.

Anónimo disse...

Tenho a imagem que foi o 1º jornal a ser distribuído numa saca plástica. Adquiri um depois de dar conta que todas as pessoas "importantes", bem arreados de indumentária se passeavam com aquela saqueta pelo "boulevard". Não consegui ler aqueles "papeis" todos, nem percebi como se liam. Tentei mais uma vez...
Que ignorância a minha!

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Anónimo das 15.56: Ninguém lê o Expresso todo! Eu, por vezes, passo os olhos pelos títulos apenas e dou uma olhada a uns articulistas que costumam ter interesse. E há outros a que fujo como gato por brasas. Um jornal que se lê uma semana depois já se lê mais rapidamente do que no próprio dia. E a razão pela qual tem mais graça ler em papel prende-se com o facto de não ser indiferente "olhar" a "mancha", o "lay out", perceber onde quiseram colocar as notícias, ao lado de outras ou não, o destaque de página (primeiro, a primeira página, depois, a última, depois a terceira e, como regra (com que a página 2 do Expresso "rompeu") as páginas ímpares a serem mais importantes que as pares).

Anónimo disse...

Se lembro!!! O dia em que o meu pai chegou a casa com a primeira edição do "Expresso" foi de profunda tristeza porque fiquei sem a leitura do suplemento juvenil do Diário de Lisboa... O único jornal ao qual fui FIEL até à última edição.

Isabel BP

patricio branco disse...

creio que o expresso foi assim como o orgão da ala liberal da assembleia nacional, ou foi na imprensa o que os da ala eram na assembleia, não recordo no entanto se f balsemão foi um desses deputados

Anónimo disse...

Pois é... a explicação ao anónimo das 15.56 é genial. Isso é que é saber ler bem um jornal. Já sei mais um pouco....

EGR disse...

Senhor Embaixador: apesar de tambem considerar que o "Expresso" melhorou,no periodo de tempo que refere,a verdade é que continuo a não entender que o jornal mantenha inalteradas certas colaborações(caso da pagina do ISEG))que são invariavelmente no mesmo tom,ou de um colunista de escassas ideias mas grande cultor de ódios de estimação,mestre na insinuação,as vezes atentatório do bom nome de outros.(Henrique Raposo).
Lamento também que o suplemento "Actual" se tenha perdido algumas colaborações sem que outras de semelhante qualidade e interesse tenham surgido.
Apesar disso,sem querer rivalizar com V. Exa julgo que me posso qualificar como o chamado "leitor fiel" do Expresso.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...