sábado, janeiro 26, 2013

384 livros

São 384! São os livros que, pela primeira vez na minha vida, deixo para trás, aqui em Paris.

Realisticamente, eles não caberiam nas minhas estantes em Portugal e os milhares que encheram muitos caixotes, que já estão a caminho no contentor, terão de ficar num armazém, em Lisboa, até que eu consiga espaço (sei lá como!) para acomodá-los.

Até hoje, num otimismo sem sentido, mantive sempre a ideia (que sabia falsa) de que poderia vir a relar qualquer dos livros que possuía. Nesta lógica, começo a ficar preocupado comigo mesmo por "desistir" de ler estes 384 livros. Tenho de pensar melhor nisto...

33 comentários:

Alcipe disse...

A dar maus exemplos e ideias inconvenientes a quem o le?
Ah, Senhor Embaixador!...

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,

Se ler à velocidade do Pacheco Pereira esses 384 livros dão para uma tarde de inverno....

N371111

Anónimo disse...


Pois é.
Os livros devido-os em dois grupos:
Os que são de consulta e se guardam e aqueles que depois de lidos podem ter destino fora das minhas estantes. Não sei se com as pessoas me acontece o mesmo. Mas eu ainda não sei

Defreitas disse...

Les livres ont les mêmes ennemis que l'homme: le feu, l'humide, les bêtes, le temps; et leur propre contenu.Ces deux derniers auront raison de certains de vos livres!Alors, moins de regrets!

Anónimo disse...

Uma sugestao dar alguns livros aos estàgiarios ;como fez um Embaixador Frances num grande pais da America Latina.O meu filho ficou FELIZ.

Norberto Jorge Gonçalves disse...

Senhor Embaixador,

Sei que a crise cria dificuldades, mas o contacto com algumas bibliotecas municipais, especialmente o interior, como por exemplo a de Vila Real, para doação dos livros não enriqueceria o país?

Por outro lado, poderia sempre reqisita-los e lê-los.

Cumprimentos de um leitor assíduo.

Anónimo disse...

Senhor Embaixador
É a primeira vez que me dirijo ao Senhor, permita-me a ousadia.
Não estará a abandonar 384 amigos...

Isabel Seixas disse...

"Tenho de pensar melhor nisto...
Pela primeira vez na minha vida..."

In FSC

Embora não me apeteça corar nem ficar à cora, subscrevo o comentador Guilherme Sanches quando no post Saudades do senhor Aguieira identifica as suas manifestas expressões de saudade...

Mas ó Sr. Embaixador (perdoe-me a ingerência), isso é tão saudável que só lhe fica bem... Mas reconheço que 384 obras é obra...

patricio branco disse...

é pena perder livros, 384 são muitos, mas razões fortes se levantam. os inimigos do livro são governos totalitários, com censura, tambem as inquisições, os estados descritos no fahrenheit 454, mas tambem,a falta de espaço na casa para as estantes ou simplesmente para mais livros. certamente que houve um criterio, esses 384 eram os que menos interessavam? os repetidos? os que figaram esgotados com uma primeira leitura ou de que não se gostou e já não interessavam?
uma boa forma de alienar livros é doá-los a uma biblioteca publica, mas estas tambem vão desaparecendo, não interessam às autarquias, custam dinheiro, são fechadas.
um livro não se compra só para ler, compra-se para ter, para consultar, para folhear, para olhar.
sim, os livros são belos e apaixonantes objectos, ao olhar para a minha 2a biblioteca penso de maneira diferente de há 20 anos atrás, não interessa não os ler todos até ao fim da vida, mas ir para lá escolher o novo livro para ler a seguir ao que se terminou, é uma tarefa que dá prazer e justifica a existencia da biblioteca.
que os 384 a quem lhes coube a sorte de ficarem fiquem em boas mãos...

Unknown disse...

Tem razão. Nós compramos mais livros do que os que podemos ou poderemos vir a ler. Veja lá! Tenho eu aqui o seu livro Uma Segunda Opinião que eu comprei um dia na Bertrand do Chiado, e por uma feliz coincidência o senhor entrou e fez-me uma dedicatória. Vou mais ou menos a meio e ainda não consegui mais tempo para o ler. E tenho aqui livros que provavelmente nunca lerei. Depois há ainda os livros que nós só lemos parcialmente. Alguns apenas 10%, 20%. Portanto, conforte-se com o facto de isso acontecer a toda a gente que lê, evidentemente.

Anónimo disse...

Então e a biblioteca de Vila Real? Deve haver lá uma, não deve? É uma pena deixar para trás tanto livro...
Cumprimentos, bom fim de missão e bonne rentrée...
Isabel Azevedo

Anónimo disse...

Então e a biblioteca de. Vila Real? Deve haver lá uma, , não deve? É uma pena deixar para trás tantos livros.
Cumprimentos, bom fim de missão e bonne rentrée
Isabel Azevedo

Anónimo disse...

Peço desculpa pela insistência.... Não estou muito habituada a mandar comentários, embora os leia todos!
Isabel Azevedo

Anónimo disse...

Sei o que isso é, quando, por algum tempo, sem saber por quanto, tive que me ausentar para o Brasil.
Mas o tempo (enquanto há), acaba por resolver isso...

Angie disse...


Eu dei vários livros à biblioteca pública local, eles agradeceram.

bom domingo a todos
Angela

Anónimo disse...

Bonito reconhecimento. Aproveito aqui para deixar a admiração e apreço pelo trabalho que desenvolveu o Senhor Daniel no Palácio de Macau. Sem que lhe devessem nada, claro... Mas com um brio no seu serviço e cuidado com o património dos portugueses que se perdiam pelos Tim Tim's mesmo nas horas de serviço... Era só loiça, senhores! A maior parte "daqueles" portugueses não pensava em livros Senhor Embaixador...

Anónimo disse...

O holocausto destes 384 pobres livros, abandonados como os cães que os donos insensiveis largam nas ferias, revolta- me e comove-me. Quem dirá do destino triste desses livros, cheios de memória e pensamento, a apodrecer numa embaixada envelhecida e húmida? Podia recolhe-los por certo o asilo de bondade da biblioteca de Vila Real ou o amor de um coleccionador de livros sem restrições nem hesitacoes como o Dr.Pacheco Pereira. Porém a crueldade de Vexa decidiu doutro modo...

a) Sociedade Protectora dos Livros, ONG a Norte e a Sul

Anónimo disse...

Percebo-o tão bem.
Os livros que comprei sozinho, os livros que comprei com a minha mulher, são uma parte da minha vida.
Quando adolescente, errava pelos alfarrabistas em busca dos títulos que outros livros referiam. Saltava de livro para livros. Sempre foi assim. São todos absolutamente essenciais, mesmo os que apenas folheei (a dimensão tornava-se gigantesca).
Lembro-me de comprar, há não muitos anos, o Danúbio do Cláudio Magris (D.Quixote). E, depois, foi um fartote: Elias Canetti, Musil, Kraus e outros. Como prescindir de um sem comprometer os outros?
(quem me dera ser marceneiro)

Julia Macias-Valet disse...

Se tivesse um Kobo ou um Kindle nada disto acontecia :)

Com uma simples pen levava esses livros e muitos mais dentro da algibeira...think about that !

Anónimo disse...

Isabel Azevedo, os livros devem ser em Francês. De pouco uso serão para a biblioteca de Vila Real.

Aproveito para renovar uma sugestão há tempos aqui deixada e que permitiria a sobrevivência destes livros: prateleiras agarradas ao teto (atravessando a sala). Ou, em alternativa, uma prateleira rodeando o dito.

Anónimo disse...

Com a devida vénia, permito-me informar que muito distraídos andam os que pensam que os livros interessam a bibliotecas. Em idade de balanço de vida, sem herdeiros apreciadores de literatura, suei as estopinhas percorrendo várias bibliotecas do Portugal interior - escolares e municipais. Em todas, gentilmente, me foram dizendo que não porque... não temos espaço, não temos funcionários, não..., não... e não e ainda que com o novo acordo ortográfico os livros escritos à antiga eram de rejeitar porque... afastavam os leitores. Esta foi a minha experiência. Ainda continuo com todos os meus livros que olho, creiam-me, com amor e com uma inevitável tristeza.
Grata por haver permitido o meu testemunho - que só por amor aos livros ousei fazer.

Nota: em todos os casos, me prontifiquei a pagar a despesa do transporte, embalagens...

A.S.

Anónimo disse...

Doá-los a uma biblioteca com a condição de colocarem o seu nome na parede, como parece que aconteceu em Celorico de Bastos, não é o caso!
Só não se entente o número! Podia ser mais redondo - 380. Isto porque a rejeição temática, entre milhares, parece uma tarefa que ultrapassaria as capacidades normais. Bem, das capacidades do Sr. Embaixador já não digo nada…

Anónimo disse...

Boa noite a todos. Coincidentemente, o director da Biblioteca Municipal de Vila Real é leitor assíduo deste blogue. E acredita que o Sr. Embaixador saberá um dia (que venha esse dia ainda longe) o que fazer com tantos livros. Se acaso alguns tomarem o caminho da Biblioteca de Vila Real (e não vejam, por favor, aqui qualquer atrevimento), serão acolhidos com todo o carinho (acho que é esta a palavra certa).

Vítor Nogueira

Francisco Seixas da Costa disse...

Caros amigos e, em especial, caro Vitor Nogueira: o conceito de "livro" é bastante vago. Embora eu faça parte de uma geração que sacraliza o objeto livro, da geração que não esquece o "Fahrenheit 451" e tem na memória as pilhas de livros a arder nas fogueiras da intolerância nazi, sei distinguir um livro que pode ser útil numa biblioteca de certo tipo de obras impressas que, podendo ter uma qualidade específica, em geral não interessam a uma biblioteca pública. Eu diria que, daquilo que deixei para trás em Paris, muito pouco seria útil à Biblioteca Municipal de Vila Real, à qual, como prometi, tenciono deixar grande parte dos meus livros. Em devido tempo.

Anónimo disse...

Bem sei, Sr. Embaixador.

Muito obrigado,
Vítor Nogueira

Anónimo disse...

Boa noite Senhor Embaixador,

Depois de reler os comentarios acerca doslivros, "orfaozinhos" que certamente terao familias de acolhimento e pais adoptivos, lembrei-me do Tuffaut- Fahrneit com o Nicholas Roeg atras da camara e uma historia aqui noticiada hoje no Independent:

Na Australia,enfrentaram-se hoje, na final, a raquetada a Escocia e a Serbia. Notas dos perfis dos ditos, ambos com 25 anos e amigos de longa data - um carrega e rele o premio Nobel da literatura do seu pais, e o Escoces, nunca conseguiu levar um livro ate ao fim, quando tentou um "Harry Porter" ficou a meio. La para a 1 da tarde vi o final do tenis na BBC. Murray perdeu com o mau humor do costume. Ajuste de contas de Walter Scott, Burns e outros? Gostaria de acreditar nisso...

Saudades de Londres.

F. Crabtree

Jose Martins disse...

Senhor Embaixador,
Disso me queixo eu... 35 anos arrumar livros da expansão portuguesa na Ásia e Oriente, nas prateleiras e agora velho que sou não sei o que fazer à "livralhada" de umas 5 mil peças.
.
Ao fazer hoje 65 anos (com esta idade não se dá parabéns a ninguém)lhe desejo que continue. no futuro, a contar coisas e aquelas que nunca contou!

Continuarei a ser seu leitor.
Saudações de Banguecoque
José Martins

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro José Martins: não concordo consigo. Aos 65 anos dão-se e recebem-se com prazer parabéns. A vida continua, com a mesma alegria, entusiasmo e otimismo.
Quanto à escrita e às revelações da memória, no que me toca ela vai continuar, com uma regra de ouro: não afetar ninguém pessoalmente e respeitar a lealdade a quem em nós confiou, politicamente e diplomaticamente. Neste quadro, há muito que se pode dizer. Muito obrigado pela sua nota.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Alcipe: conhecendo-lhe os cantos à casa ( de Vexa ) temo que um tomo lhe tombe em cima um dia destes. Vexa estará prestes a submergir na papelada das suas infindáveis estantes e, no seu caso, vai acabar pir levar com muita rima na pinha, ou eu me engano muito. Comece a dar o Augusto Gil pelas esquinas de Estrasburgo, caro amigo. Aproveite a (balada da) neve.

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro N371111
Se for o Prof Marcelo basta-lhe o título e o nome do autor!

Anónimo disse...

Pode sempre oferecer os livros ao Comissarido da ONU para leitura, existirá... algum Silva a presidir... Penso que os 384 livros não vão melhorar a sua "isustentável leveza do ser"

Alexandre

Mônica disse...

Senhor embaixador.
Me deu uma dó do senhor deixar os livros . Como eu gopstaria de ganhar um com autografo.
Mas eu tampem herdei da minha tia todos os livros dela.
Sabe o que fiz? Tem quatro anos que ganhei estes livros e ja li 230
livros, mas nao estao comigo vou lendo, resumindo e passando pra biblioteca de minha cidade que e muito simples.
Se nao fosse tao caro ate que eu pediria pro senhor envia-los pra eles. Mas é pedir DEMAIS.
com carinho Monica
A cidade é santo antonio do amparo

patricio branco disse...

porque não se passa a chamar o blogue "notas pouco diárias de um ex-embaixador em paris"

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...