sábado, novembro 17, 2012

As novas fronteiras

Na passada sexta-feira, almocei com o "maire" de Hendaye, que foi o amável anfitrião do encontro de que já aqui falei, dedicado à imigração portuguesa em França. Referi-lhe a minha surpresa pelo facto de, nos últimos anos, de cada vez que visitava a sua região, notar uma presença crescente dos sinais da cultura basca. Perguntei-lhe quando é que essa tendência se impusera, porque conhecia aquela zona desde os anos 60 do século passado e nunca me tinha apercebido de algo que fosse nesse sentido.

A sua resposta foi esclarecedora e trouxe-me novos dados. Disse-me que essa evolução datava apenas dos anos 90, mas que tivera uma adesão e um crescimento tal que, por exemplo - e esta foi, confesso, a minha grande surpresa - a primeira língua em que são educadas as crianças da região é hoje a língua basca e, só depois, a língua francesa. Televisão, rádios, editoras e jornais em basco estão hoje em franca expansão, havendo uma crescente coordenação transfronteiriça entre municípios, franceses e espanhóis, com rotatividade de chefia, que abrange cada vez mais áreas de uma administração comum. 

Se olharmos para o que se passa na Catalunha, se pensarmos no referendo que irá ter lugar na Escócia, associando tudo isto a casos como esta área transnacional de cultura basca - e outros exemplos existem por essa Europa fora -, não estaremos a caminho de um novo paradigma de poderes na Europa? E como vai ser possível compatibilizar as representações dos Estados com a emergência, precisamente porque têm muito diferente natureza e capacidade de afirmação, de novos e criativos poderes regionais europeus? Qual irá ser a evolução e a importância, face às instituições existentes, do Comité das Regiões, no seio da União Europeia do futuro?

10 comentários:

Anónimo disse...

A federalização vai resolver estes problemas todos, incluindo o da Madeira.
Não foi para isto que andaram a “trabalhar” desde o início?...estão a chegar ao que queriam! Não sei se é o que querem os cidadãos e muito menos se é do seu interesse…

Anónimo disse...

Pois é..... virá a ser uma Torre de Babel e uma enorme bagumça para finalizar. Ou então aqueles que cumprirem com algumas regras, como orçamentos e etc. desenvolvem-se, outros ficarão pelo caminho. As línguas e as culturas locais vão ser apenas folclore. Mas eu não sei, pois está tudo tão mudado....

Um Jeito Manso disse...

Pois é, Embaixador. São, de facto, novos paradigmas que devem merecer uma reflexão. Mas aqui reside o problema: é que quem se instalou nos chamados 'poderes' é, de modo geral, tão destituída, tão inculta, tão próxima da barbárie intelectual, tão burocrata de quinta categoria, que todas as questões que coloca lhes passam ao lado.

Provavelmente será, pois, destas novas realidades que virá também a emanar uma nova forma de 'poder'.

Um bom domingo, Embaixador.

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
Há muito que desconfio que a Europa em que cresci vai ser muito diferente daquela em que morrerei. Sem federalismo - que, confesso, não me agrada muito -, não vejo euro nem Europa. Mas federar regiões tão diferentes?!
Hum...

Portugalredecouvertes disse...

um copy-paste para todos, quando a Europa tinha chegado a um patamar de civilização que valoriza a diversidade de culturas dentro do seu espaço e inclusive dos outros continentes e países mais longínquos, parece natural que muitos questionem se é progresso

patricio branco disse...

talvez sejam ciclos, concentração-descentralização de novo aglutinação, etc.
ou apenas fenómenos culturais, o que era antes reprimido, a identidade de minorias, começou a ser permitido,facilitado e promovido.
há minorias que definham e desaparecem, outras que ganham novas forças e se reproduzem, crescem.
aspectos demograficos, culturais,economicos.
sabemos lá o que é melhor, concentração ou fragmentação, separação. checa e eslovaquia ou checoslovaquia?
a italia e alemanha antes da reunificação ou unificadas?
talvez exista mais bem estar em andorra, s. marino, lichstenstein que na espanha e italia.
e porque terão todos de pertencer ao mesmo clube, a ue ou outro? pode haver vários agrupamentos, outros, paises isolados, etc

Anónimo disse...

Regiões?! Mas porque não Estados? Ora essa...

Quanto às "línguas locais": foi o desprezo por elas que acabou com o contínuo que ia de Portugal até Itália, destruindo o Occitano/Provençal, esmagado pela pata do "incompreensível" Francês. Que bom!

Desabafo: tantas vezes vai o cântaro à fonte... De tanto falarem do não-problema da Madeira, ainda hão de conseguir criar um. Terra de doidos, esta.

jj.amarante disse...

Parece-me verosímil que um reforço do federalismo enfraqueça os estados existentes, dando um maior protagonismo a regiões cuja identidade foi reduzida pelo Estado que as integrou.

Anónimo disse...

esta a europa mesmo a precisar de uma conferencia de berlim, de preferencia a ser feita no qatar, ou em shanghai, para que alguem traga a civilizacao a estas tribos de selvagens que comecamos a ser nós europeus, e ja agora que aproveitem e dividam as riquezas!


leopoldo do kazakistao

Anónimo disse...

Quando na década de 70 o autocarro que trazia muitos emigrantes atravessava uma área ocupada pelos bascos mais aguerridos colocava-se uma facha no autocarro a dizer que éramos portugueses; o que fazia com que muitas vezes nem revistassem os passageiros. O mesmo não acontecia com as famílias francesas que por ali passassem. Eram sempre abertos os carros e revistavam tudo. Paulatinamente estas regiões foram ganhado "autonomia" que o futuro dirá como poderá ou não manter-se na nova "ordem europeia" que há-de surgir. O problema da Madeira é um "não problema". Já ouvi muitos analistas e até deputados da AR e do PE fazerem grandes "considerandos" sobre a ilha da Madeira sem nunca lá terem ido. Já agora para quem não saiba os deputados "todos" tinham a oportunidade de visitar as "ilhas" de borla. Assim tivessem sabido aproveitar...

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