segunda-feira, setembro 17, 2012

Da política

Voltámos aos dias obsessivos da política. Não se consegue falar de outra coisa. Telefonar para Portugal tem como consequência, cinco segundos depois de iniciada a chamada, ouvir comentários sobre a situação que se vive no país. Encontrar alguém que de lá chega é sinónimo garantido de, inevitavelmente, iniciar um diálogo sobre a crise e as crises que nela se estão a gerar. Os nossos funcionários, crentes em que "bebemos do fino", perguntam-nos o que vai acontecer. Os estrangeiros que cruzamos, dependendo da sua sensibilidade, colocam-nos questões brutais ou optam por um registo piedoso. 

Se os atores da peça andam eles próprios à procura de um argumento, não serão os espetadores quem pode adivinhar o sentido do que a história vai acabar por escrever. Nestes tempos, se os nossos medos tornarem isso possível, é muito importante que tentemos manter a cabeça fria e perceber que, se acaso a perdermos, isso em nada nos ajudará. Nos dias que correm, todos temos legítimas dúvidas, todos alimentamos angústias ainda sem respostas. No que me toca, tenho uma firme vontade e uma convicção: quero ver tudo resolvido na mais estrita observância das regras da democracia, que deu muito trabalho a construir, e tenho por seguro que, se isto correr mal, correrá mal para todos e não só para alguns.

21 comentários:

Um Jeito Manso disse...

Embaixador, boa noite,

Este post está imbuído de sensatez e moderação. Respeito pelos valores mais nobres da democracia e da liberdade é o que todos queremos. Mas queremos também respeito por nós, pessoas que vivemos e trabalhamos em Portugal. Por isso, nesse aspecto, concordo plenamente consigo.

O que me choca no seu texto é outra coisa: é a falta de 'c' que nos faz passar de espectadores em espetadores. Credo, Embaixador, que resolvam eles os arrufos entre eles, que não se queira que ainda tenhamos que ser nós a colocá-los no espeto...!

E haja alegria :)

mv disse...

Gostei muito da história. Hilária, mesmo. Bom ter senso de humor. Fico pensando, embaixador, o dia que dormi com uma artista famosa e linda. Viajando na executiva de uma avião da Varig. Ela na primeira fileira e eu na terceira. E muito bem vestida...

Anónimo disse...

Duas notas:

a) Bela palavra "democracia" - que serve para uns a respeitarem na sua estrita observância, para outros a usarem como forma de justificarem atitudes pouco comuns, para uns defenderem o seu autismo representativo, para outros a usarem como escudo da não assunção de responsabilidades (mesmo que actualmente miríficas) e para uns a suspenderem. Há tantas democracias que pergunto se não seria bom um referendo à palavra ...

b) Espero que a coberto da palavra não surja um e"Anes Bandarra" com um manietado Sebastião ... é que, como sabemos, Sebastião come tudo e já não há nada para comer.

Nuno 361111

Isabel Seixas disse...

Concordo plenamente, sendo que as regras da democracia neste contexto são:Assegurar o direito à vida da população com qualidade permitindo-lhe auferir dos direitos básicos como instrução /educação formal e informal, saúde, habitação condigna e acesso ao trabalho para poder suportar os custos das necessidades referidas.

Eliminar o supérfluo na gestão do serviço público moralizando os gastos imorais que algumas chefias de topo e intermédias fazem em proveito próprio nomeadamente no uso de recursos financeiros e materiais como luvas em horário pós laboral...

E não só mas é por aí...

Não é a sra que para sobreviver... Tem que pagar os transportes para se deslocar em tempo oportuno , o infantário ou a escola dos filhos, as taxas moderadoras de alguns serviços de saúde sendo que por exemplo a saúde oral não está incluida tendo que a suportar na integra ou render-se às cáries ou ficar sem dentes, sujeitando-se na maioria das vezes a um emprego precário e às alterações de humor do "patrão"
como eterno castigo por ter nascido pobre se for o caso se não ninguém a mandou ser burra e ainda mas também não só à crueza do pagamento dos custos de habitação incluindo a qualidade do ar que respira (às vezes duvidosa)oferta justa do municipio além das portagens indiferentes ao escalão remuneratório e tudo isto a juntar à subida dos preços e redução dos ordenados... Sobreviver para alguns é obra...

Ainda acredito também que a democracia chega, mas vejo no meu dia a dia cada vez mais rostos sem esperança...

Anónimo disse...

A esperança para mim Sr. Embaixador, é que esta corrida desenfreada do mal para pior não poderá continuar.
Afinal é muito bom quando a angustia se torna esperança...
José Barros

Anónimo disse...

Se isto é uma democracia eu sou a GINA LOLLOBRIGIDA!

patricio branco disse...

efectivamente o país vive uma situação de grande angustia e medo que transmite aos cidadãos uma preocupação enorme e permanente pelo presente e futuro.
isto leva-o a falar e pensar no assunto constantemente, é muito dificil deixar de o fazer.
é uma verdadeira tortura colectiva como nunca antes se sentiu, mesmo quando antes havia tortura fisica.
não é uma obsessão de falar de politica. é um medo e sofrimento colectivo muito grave que nos é infligido, causado por factores que nos são alheios na medida em que não sabemos sequer como nos defender.
a falta de democracia ou a sua má qualidade podem assumir variadas formas estamos agora a perceber.
claro que é um bom conselho dizer que conservemos a cabeça fria, palavras sensatas, eu próprio tambem o penso. mas isso infelizmente não resolve as situações de alguns milhões (a quantificação está correcta)de portugueses vitimas inocentes.
e a conversa sobre "politica" continua...

Anónimo disse...

(...)
Deu muito trabalho a construir!!! Muito mais do que agora desmantelar alguns sectores ou serviços que sem serem perfeitos ainda nos davam a ideia de que a dignidade dos cidadãos era a mesma da que se observa noutros países da Europa. Não será isso mesmo que se quer acabar? Não seremos o país ideal para que as experimentações que urge fazer para um nivelamento entre continentes de uma globalização que se começou sem "regulamentação" mas que se impõem pelo tempo e pelo modo de vida dos trabalhadores dessas regiões e países? De cada vez que esta Europa deslocalizava uma empresa para a Ásia, levava metada do valor da mesma, aonde a mão de obra barata - sem direitos de acesso à saúde ou a uma reforma digna - trazia de volta coisas "bonitinhas e bratas". A outra metade do valor da empresa deslocada poderia ser investida na bolsa sem pagar impostos... Foi assim. Não foi? Agora vemos bandos de chinesas do Sul (porque reconheço o cantonense) nos grandes armazéns franceses a fazerem fila com as japonesas do costume. Quem tem dinheiro é que dita as regras! Portugal pela sua unidade interna, pela sua base familiar de apoio na subsistência dos seus membros era o sítio ideal para servir de modelo à Espanha; ao Sul da Itália, à Grécia e até a outros países. De preferência países/entrada de mar ou com portos de águas profundas como Hongkong (aonde já há sectores da população preocupados com o fim do período da transição: um país, dois sistemas). Tendo já escrito muito falta-me deixar a mágua de em 2008 (há 4 anos)os Partidos que nos representam não terem tido em conta o país e o povo português. Teria, já na altura sido imperativo um governo de abrangência com pessoas de todos os quadrantes políticos e, independentes de valor reconhecido. O problema não era o Zé, o Francisquinho ou o Paulinho. O problema era a falência da egemonia do Ocidente sobre o resto do mundo. O acerto com as novas realidades não tinha nada que ser feito apenas pelas classes médias: baixa ou alta. O resultado dessa experimentação redundou em mais défice e mais dívida, com o sofrimento dos desempregados e daqueles que nunca tinham tido vocação de emigrar... Agora reconheçam ao menos a categoria com que milhares de portugueses mostraram o seu exercício de cidadania sem necessidade dos controladores do costume. Isso obriga a que se mostre a mesma força junto dos orgãos de decisão em Bruxelas, como aquela que tem sido apresentada aos portugueses. Ou será que já não fazemos parte da UE?!

Anónimo disse...

Francisco,
Você, aos poucos, vai-se tornando num enfadonho conservador. É pena! Tinha-o como pessoa um pouco diferente. Este seu Post e um anterior (o das mangas arregaçadas e outros antes) vêm revelando um FSC cada vez mais próximo daquilo que o ouvi, em tempos, criticar. Será que a reforma e a idade têm alguma influência nesta sua “evolução”?
UJM deu-lhe uma “bicada” com uma diplomacia e elegância que merece aplauso!
Igualmente, Isabel Seixas acrescentou algo ao conceito abstracto que você, pelos vistos (!), tem da Democracia. Quem o lê, presume que esta “popular coligação” é toda ela composta de bons rapazes e raparigas que se esforçam pelo bem estar da grande maioria da população.
Ao mesmo tempo, aquela sua última frase “...correrá mal para todos e não só para alguns” revela uma de duas: ou você é ingénuo – e já não tem idade para isso homem! – ou pensa como quem nos governa. Está no seu direito, naturalmente. Mas nada tem a ver com um FSC que em tempos conheci.
Meu caro, ainda vai a tempo de se reciclar. Assim o queira. Mas duvido. Quem escreve o que você tem escrito já não me parece que esteja para aí virado.
Deixo uma pergunta: os milhares de manifestantes de Sábado passado (uma manifestação que nada teve de partidária) não lhe disseram nada?
E ainda: sabe o que é sobreviver com uma pensão miserável? Não o choca que haja gente como alguns desses intocáveis gestores, como nas PPP, na Banca, etc, Consultores (Borges) que, efectivamente, passam pelos pingos da chuva desta Crise enquanto a maioria a tem de pagar muita das vezes com dificuldades inamagináveis?
Aos poucos, você começa a ser uma pessoa desinteressante. Que maçada!
a) Um Seu Conhecido

ARD disse...

Há três dias, os espectadores deixaram-se de se limitar a patear e, perante a obscenidade do espectáculo, decidiram subir ao palco e intervir na fantochada que estava a decorrer, tornando-se actores também.
E não tenho nada por seguro (salvo seja...) que, se isto correr mal, corre mal para todos. Acho que corre bem para os do costume.

Helena Sacadura Cabral disse...

"Voltámos aos dias obsessivos da política."
Voltámos, Senhor Embaixador?!
Boa vontade sua. Há muito, muito tempo, que em Portugal tudo está politizado...
E admiram-se os leitores dos resultados do inquérito feito pelo Expresso ao "desejo" dos portugueses...

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro "Um seu conhecido": que se há-de fazer? Cada um interpreta as coisas como lhe dá jeito.

Como o "arregaçar" da manga (e não das mangas), que já ouvi ler como agressivo e provocatório.

Quanto à "democracia", quis apenas alertar para as tentações de "salvação nacional", por cima dos partidos e pela mão de "salvadores", mais ou menos "neutrais" ou tecnocráticos.

Quanto ao resto, quem me conhece sabe o que penso.

Mas também gostava de lhe dizer que, do alto do seu anonimato, é fácil escrever coisas que quem assina por baixo não pode.

Anónimo disse...

Se todas as pessoas que votaram PS+PCP+BE nas últimas eleições saíssem à rua, era a maior manifestação de sempre neste país. Mas continuavam a ser, apenas, as pessoas derrotadas nas últimas eleições, nada mais.

A escolha dos governos faz-se nas urnas e não nas ruas ou no Facebook.

Dizer que na manifestação havia quem tivesse votado "no Governo" vale tanto quanto dizer que metade das pessoas que votou "contra o Governo" não saiu de casa...

Dito isto, estou farto do Governo, da Oposição e do raio que parta tudo isto! Cada vez mais, só gosto dos Portugueses que não têm BI, ou seja, os animais do campo.

domingos disse...

" Quero ver tudo resolvido na mais estrita observância das regras da democracia"; mas quem é que não quer, caro Embaixador? A questão, aflorada por alguns comentadores, é saber do que é que estamos a falar (democracia) e aí começam as tricas. Como nota pessoal acrescentaria que me parece que um dos paradoxos mais irónicos das democracias formais é que quem vota num partido, num governante, sofre sempre as consequências do seu voto, o que acaba por ser justo. É esse o segredo das democracias, alimentar um reflexo condicionado que raras vezes pouco mais é do que uma esperança ilusória. Fiquemos por aqui que o momento não é para especulações.

Anónimo disse...

Alguém terá dito à velha rimalhadeira que Portugal não tinha salvação e a senhora, patriota dos sete costados, foi aos arames (eufemisei 'lixa' e 'punidos':

claro que tem salvação 
portugal precisa só                  
que um pouco mais de atenção
lhe preste quanto totó

se distraiu lá plos idos    
de março nessa traição 
em que partidos unidos
entregaram a nação 

a badamecos vendidos
ao capital comilão
que nos lixa ora sem dó

depois de assim mal punidos
temos de mesmo esvaídos
lhes limpar e já o pó*

*adenda
porra pró forrobodó
todos já pró xilindró

Cafeína disse...

De facto fala-se muito de política e do estado do país, ultimamente. Fala-se demasiado, até.
Não acho que estar constantemente a falar-se de crise na televisão seja bom. Toda a gente assiste e toda a gente fica à espera que venha uma boa solução. No fim, só sabem criticar o que ouviram, ao invés de tentar arranjar soluções! É claro que nós, meros habitantes deste país, sozinhos não podemos fazer grande coisa. Mas, se pensarmos bem no que podemos fazer por nós, pelas nossas economias e poupanças e pusermos em prática, muita coisa mudava depressa!

Anónimo disse...

Pois é.... Já pensaram que podemos estar a viver um PREC. Em revolução não se pode saber para onde ela vai. Sabemos que há necessidade e urgência em mudar muita coisa. De arrasto poderão ir outras que sempre pensámos nestes últimos 35 anos que seriam imutáveis. Parece que não são, mas.... eu não sei. "O tempo é feito de mudança".

EGR disse...

Senhor Embaixador: subscrevo, inteiramente, o seu ponto de vista,ou seja, a de que tudo se resolva dentro do mais estrito respeito pelas regras da democracia; apenas uma leitura distorcida do post explica certos comentários.
Evidentemente que a situação que enfrentamos exige soluções politicas.
E, permita-me um desabafo: a vida no nosso país,e o desempenho dos seus principais responsaveis públicos, está simplesmente deprimente
E

Helena Oneto disse...

Senhor Embaixador,

Subscrevo EGR inteiramente. Tant pis para os que não sabem, ou não querem, ler o que esta implicido no texto ou nas entrelinhas deste post.

Um director (e excelente banqueiro) com quem trabalhei disse-me um dia: "la démocratie est un luxe que seuls les pays riches peuvent se payer". Na altura, protestei. Hoje estou convencida que ele tinha razão.

Helena Oneto disse...

Subscrevo, inteiramente, o comentario de EGR.

PS: Ha uns anos, tive um excelente director, banqueiro e homem de esquerda, que me disse: "La démocratie est un luxe que seuls les pays riches peuvent se payer". Na altura protestei, agora estou convencida que ele tinha razão.

Anónimo disse...

Desculpe Senhor Embaixador mas nas suas palavras falta a meu ver um elemento fundamental para uma democracia salutar: Transparência. Sem ela ninguém compreende as medidas e os gastos. Sem ela qualquer verbo é legítimo.

Cumprimentos.
MMusoni

Obrigado, António

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