segunda-feira, junho 11, 2012

Lusofonia

Ontem, ao falar com os promotores do festival cultural que, em Toulouse, é este ano dedicado à Lusofonia, dei comigo a pensar que este conceito, sendo hoje banal, era muito pouco utilizado há umas décadas atrás. Porquê? Porque afirmar um conceito se sugerisse como federador de realidades culturais suportadas, simultaneamente, pela antiga "potência" colonial e pelos novos países emergentes da descolonização era um risco que muito poucos arriscavam então assumir. 

Foi o 25 de abril, aliado ao bom-senso e à posterior "desmarxização" que levou à atenuação de uma agenda radical anti-portuguesa em alguns desses recentes Estados, que foi gerando este descomplexado sentimento comum que faz com que, nos dias de hoje, um cantor angolano, um escritor moçambicano, um cineasta português, uma bailarina brasileira ou sei lá quem mais de Cabo Verde, de Timor, de Macau, de S. Tomé, da Guiné ou das várias diásporas possam encontrar-se, e sentir-se bem, em conjunto. 

Se os outros, os estrangeiros, nos qualificam como lusófonos, quem somos nós para recusar esse epíteto? Viva a lusofonia, esse fundo de riqueza de países de onde sempre se vê o mar, com culturas saudavelmente diferentes e muitas vezes distantes mas que, no essencial, se reúnem, com uma cada vez maior naturalidade, à volta de uma língua - mas também de uma bacalhauzada bem regada ou de um pastel-de-nata.

14 comentários:

Isabel Seixas disse...

"Se os outros, os estrangeiros, nos qualificam como lusófonos, quem somos nós para recusar esse epíteto? Viva a lusofonia,"in FSC

Também digo e ora Eça...

Isabel Seixas disse...

A propósito, é tão feliz a escolha da imagem, linda, com uma intensidade de cor que emana uma energia que corrobora tudo o que está dito no post.

Anónimo disse...

Lusofonia em Macau??? - só se for no tipo dos frangos, em Coloane...

Terra de sonhadores...

gherkin disse...

MEU CARO,
É pena que a chamada lusofonia, que tão bem se comemora nesse evento, não se estenda e inclua, pelo menos como observadores, igualmente, aos países cujos resquícios da nossa "lusofonia",como o Sri Lanka, cujo teatro, segundo um colega da BBC e bom conhecedor dessa arte me disse dever as suas raízes ao teatro português, ou melhor, a Gil Vicente, cujos Autos de Fé foram nele inspirados, ou outros ainda, como a Malásia, Singapura e, claro, a própria Indonésia, em cuja ilha das Flores, mantendo o mesmo nome aí, igualmente deixou bons resquícis. E, que dizer de Goa? É pena, que não se cultivem estas nobres raízes! O que muitas vezes é esquecido, a Bíblia, versão de João Ferreira de Almeida, muito seguida pelas igrejas evangélicas, teve a sua tradução nessas andanças a fim de satisfazer as vastas necessidades evengelizadoras da época! Abraço e o maior sucesso nesse evento.
Gilberto FERRAZ

samartaime disse...

E que viva Lisboa mulata, por amor à lusofonia.

Helena Sacadura Cabral disse...

O comentador Gherkin levanta um ponto bem verdadeiro para quem conhece algumas das terras citadas.
Visitar e olhar Goa é uma aventura fabulosa para quem, como eu, adora Portugal. Lá, tão longe, está bem visível a nossa impressão digital. Chega a ser comovente.

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,

Não me parece que o 25 de Abril tenha nada a ver com o caso. Os portugueses sempre foram bem vindos em África, aliás, o ADN português também é africano.

Dizia-me alguém que quando os portugueses sairam de Angola até os passarinhos ficaram tristes, mas se precisar de referências bibliográficas recomendo-lhe a leitura do livro escrito pelo Embaixador Pinto da França retratando a sua passagem por Angola.

Aí se pode ver como os portugueses, muito anteriormente ao 25 de Abril, já eram acarinhados nestas paragens!

Cumprimentos,
MS

Anónimo disse...

que a lusofonia seja um meio de desenvolver o que de bom ha por todos estes paises em que se fala o portugues...


e nao um meio de os transformar num especie de jardim relvado...


dois sites interessantes


http://makaangola.org/
http://www.buala.org/


bem haja

Portugalredecouvertes disse...

Gostei muito deste artigo

antes ou depois do 25 de Abril, penso que a marca deixada pelos portugueses só pode ser enorme, porque construiram países imensos que consideravam seus, não seria o tipo de exploração temporária para enriquecer e vir embora

o meu pai descrevia-me imagens fabulosas de Angola quando por lá passou,
as pessoas adoravam os países onde estavam.

Carlos Fonseca disse...

"Aí se pode ver como os portugueses, muito anteriormente ao 25 de Abril, já eram acarinhados nestas paragens!".

escreveu um comentador às 17h37.

Estive 26 meses em Angola, e se é verdade que durante os primeiros 14 meses, "vividos" nas matas do Norte, os carinhos não foram muitos, bem pelo contrário, já os últimos 12 meses, passados no Quanza-Sul, confirmam o que o referido comentador escreveu. Não podia ter sido mais acarinhado. De tal forma que estive muito tentado a não regressar.

patricio branco disse...

reconheçi alguns dos quadrados que constituem o puzzle da lusofonia, falta identificar outros. portugal está no centro, algum significado? (por mim parece me bom lugar). estarão por ordem alfabetica pois angola parece-me ser o 1ro?
uma boa ilustração, ou cartaz do festival, sem duvida.
na ementa entrará tambem sem duvida a feijoada, a galinha com mancarra, a moamba, a cachupa, a chamuça, etc

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro anónimo das 12.33: dizem-me que se estuda hoje mais português em Macau do que no tempo em que Portugal tinha a tutela teórica daquele território.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro MS: O que eu disse foi que o conceito de lusofonia só pôde existir depois da independência das colónias. E parece-me uma evidência que esta tem alguma coisa a ver com o 25 de abril. Conheço muito bem o livro do embaixador António Pinto da França, sobre a sua passagem por Angola, porque tive o grande gosto de ser seu colaborador em Luanda nesse tempo, como aliás o livro refere. E, se ler, do mesmo autor, o "Diário da Guiné", peço que perca algum tempo com o prefácio, que é assinado por mim.

Anónimo disse...

Hoje em Macau a procura por livros e autores portugueses é bem maior do que em 1987. Há chineses a frequentarem aulas de português, coisa que não havia, talvez porque o papel da comunidade de macaenses fosse exactamente o de "tradutores" para - quem falasse cantonense - os comerciantes de Cantão ou os construtores chineses em Macau. Nos últimos anos do período estabelecido para a "transição da Administração portuguesa" para além da localização de quadros macaenses, quem pretendesse permanecer no Território passou a dar tanta importância ao mandarim como ao português. Nota: os macaenses começaram também a olhar o mandarim de outra forma; sem aquele "desprimor" que erradamente tinham cultivado por demasiado tempo.
A presença portuguesa em Macau é bem visível... até pelo número de quadros portugueses que continuam a chegar ao Território. Já agora só acrescentar à excelente informação do comentador gherkin: o número de visitantes que circundam diariamente os restos mortais de São Francisco Xavier em Malaca; com muitos vocábulos e artefactos mais bem conservados do que por cá, por onde as modas linguísticas e religiosas mudaram mais depressa.

Fora da História

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