domingo, março 25, 2012

Classes

Encontrei-o há dias. Careca, mais gordo, mais velho, reformado, mas sempre com aquele sorriso jovial, o mesmo que tinha quando andávamos envolvidos nas "guerras" políticas radicais dos anos 70. Falámos do país e dos dramas caseiros.

- Felizmente que pertencemos a uma geração realizada, comentou. Lembras-te quando lutávamos por uma sociedade sem classes?

Eu lembrava-me, mas não percebia onde ele queria chegar.

- Pois bem. Conseguimos o que queríamos: temos por aqui uma sociedade sem classe nenhuma...

Continua um exagerado.

15 comentários:

Anónimo disse...

Pois é... pessoas da sociedade...

Anónimo disse...

Sr. Embaixador, esta história é ficção, não é?...
Bem vistas as coisas, ao que se tem assistido é à deliberada eliminação da "classe" de classes.
O que se pensava na altura era fazer a classificação das classes que "supostamente" não tinham classe. Ou não?...
E será que o sr. da historia continua exagerado por expressar sem rodeios o que viu e o que vê, ou por discorrer sobre utopias?
A este propósito, lembro-me de uma reunião em que foi apresentado o filme, “o couraçado Potemkin” como argumento para uma profunda discussão política, por um ilustre político (da época e de agora) que, atualmente, terá “classe” uma vez que pertence aos órgãos superiores de uma importante empresa.
Durante uma tarde inteira, a discussão não passou da questão da autorização ou não, a um jornalista presente, da utilização do seu gravador, uma vez que poderia ser uma perigosa prova incriminatória.
Eramos uns exagerados!... atualmente parece ser, o politico, mais “exagerado” do que nós…

Anónimo disse...

Portanto.... "Na entrevista concedida a Pedro Mexia, Miguel Esteves Cardoso fala sobre o momento atual da sua vida, do seu percurso e da colaboração com Paulo Portas, nos tempos da criação do semanário "Independente", que diz ter trazido uma outra atitude para o país e quebrar o medo das pessoas se assumirem como conservadoras: "Até o CDS era pela sociedade sem classes. Esse elemento estava muito enraizado na maneira de pensar. E nós queríamos poder dizer que éramos conservadores. Ser conservador não é ser nazi, é querer que as coisas continuem, gostar das coisas como são. E isso era novo"."

Anónimo disse...

Não só as classes "nobres" já não têm classe, como outras classes foram diminuindo até desaparecerem. Os camponeses e operários aonde estão? 
Qual era a consistência da palavra "fábrica" e das palavras "trabalhar a terra" que já não me lembro?
E eu, que já não sou operário, como é que me amanho?
José Barros 

Isabel Seixas disse...

Classe do ponto de vista da conduta com caráter de respeitabilidade sua e do outro existe em todas as classes, até porque modéstia à parte existimos Nós, o Seu amigo sr. Embaixador esqueceu-se desse pormenor, revelando carência de autoestima social,nada que o sr. não resolva com a sua aura otimista.

Armando Pires disse...

Dantes tínhamos a 1ª, a 2ª, 3ª e 4ª Classes, isso perdeu-se.
As classes nos comboios também desapareceram.
Eis o que resta, instrução sem conhecimento, comboios que atrás das classes, também se foram por obra de alguém, sem grande classe.
Enfim, as classes foram-se e ficou mesmo uma sociedade sem classe alguma.
A mediocridade reina com toda a classe no bananal.

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

No meio desta discussão de classes A, B, C, e por aí fora, o que me preocupa mais é a situação difícil das pessoas, com ou sem classe. Cada vez há mais gente com classe a quem as circunstâncias estão a negar a dignidade mínima, estão a viver na rua e a comer junto às carrinhas de activistas voluntários. A semana passada, pelas 10h00 da noite estava um grupo de gente com óbvias dificuldades materiais a jantar na entrada da sapataria Bambi no Saldanha (Lisboa). O País evoluiu muito no último quartel do século XX mas está a retroceder. Acabámos com as barracas em Lisboa, será que não somos capazes ou não queremos acabar com a classe inaceitável de pessoas a viver e dormir nas ruas de Lisboa? Bastava gerir melhor a actual sociedade de desperdício, não era necessário criar défices...

Anónimo disse...

Sabe que na Empresa onde trabalho, há 36 anos, me tratam, na última década, por 'colaborador' ? a mim, que sempre lutei contra tudo o que cheirasse a colaboracionismo?
Um dia, vou perder a calma... e vou dizer às senhoras doutoras de Recursos Humanos que os únicos colaboradores que conheço são os testículos.

Anónimo disse...

O seu é amigo não é exagerado.Têm
profunda razão.Infelimente.
Mas...a luta continua.De derrota em derrota até à vitória final!

Helena Sacadura Cabral disse...

Há quem lhe chame, Senhor Embaixador, geração de passado prometedor...

Fernando Frazão disse...

A falta de classe também se deteta na falta de sentido de humor...

Fernando Correia de Oliveira disse...

Esta polémica faz-me lembrar uma frase que ouvi, há já uns 30 anos, a um camarada de profissão mais velho - "não há classe dos jornalistas, há alguns jornalistas com classe" ;-)

Anónimo disse...

Nas "classes" de Santo Agostinho, devia ser-lhes fornecido tudo o que necessitassem para exercerem bem as suas profissões, e, como contrapartida todos os artesãos contribuiriam para o bem estar social. Nem Santo Agostinho, nem J. Rawls nos valem, nesta delapidação do trabalho e do emprego. Somos todos "colaboradores" e os 'pobrezinhos': "clientes" das instituições que apareceram a criar emprego nas áreas do "social". Isto não é ficção. Para os jovens que não têm vocação para emigrar, lá se arranja uns quantos "problemáticos" do costume e, outros depauperados pela "crise" para entretê-los... Será que vão aparecer novas classes? Há que aguardar para lhes dar nome próprio, depois de avaliados os resultados. Quem sabe se já há classes emergentes e, nós é que não as vemos?

ARD disse...

N' "A Filha do Arcediago", Camilo põe o negociante António José da Silva a dizer: "A gente póde gosar a sua riqueza sem andar à compita com as grandezas dos fidalgo. (...) Dizia o meu amigo arcediago, que quem sahe fóra da sua classe não tem classe nenhuma. É cá uma ideia que eu aprendi de cabeça, e acho isto bem dito: quem sahe fóra da sua classe não tem classe nenhuma.
Já agora, transcrevi com a "ortographia" da época, em benefício dos detratores do Acordo Ortográfico, para chamar a atenção para o facto de tão profundas alterações introduzidas pela reforma anterior não terem causado grande mossa...

Anónimo disse...

Eu não sei mas.... já nem nas escolas há classes. Hoje em dia há só anos. Isto é de facto uma sociadade sem classes.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...