domingo, setembro 25, 2011

Os amigos e as ocasiões

Há duas atitudes comuns, entre outras possíveis, quando dois amigos nossos se incompatibilizam.

Uma delas é optar abertamente pelas razões de um deles, fazendo-as totalmente nossas e daí retirando as necessárias e radicais consequências no tocante à relação com o outro. Quase sempre, é isso que cada um, expressa ou implicitamente, nos pede.

Outra é procurar preservar ambos os vínculos de amizade, não obstante se poder reconhecer que um desses amigos até pode ter mais razão do que o outro. Nesse caso, emerge o risco simétrico desse amigo, o tal que tem mais razão, poder não entender que continuemos a nossa relação com quem a tem menos. 

Alguns acharão que esta segunda atitude é uma contemporização frágil, quiçá reveladora de pusilanimidade. Não vejo as coisas assim. As amizades criadas na vida são valores "bilaterais" (para usar um termo diplomático), que devem situar-se, tanto quanto possível, acima dos circunstancialismos exteriores. Bem basta aturarmos as razões da nossa consciência, quanto mais "importarmos" as razões dos outros. A menos que estejamos perante a ultrapassagem de fronteiras éticas - onde a nossa própria consideração pessoal por um dos amigos poderia ter tendência a esbater-se.

Mas a que proposito vem isto? De nada, deve ser do belo sol deste domingo de outono em Paris.

16 comentários:

patricio branco disse...

verdade que já estamos no outono...

Fada do bosque disse...

Vai ser uma chatice quando nos referirmos ao verão... não me refiro ao verbo ver...
Quanto às amizades, é dificil gerir esse tipo de circunstancialismos. Eu utilizo muito o lema, na dúvida, não julgues. A Ética é muito importante e se essas fronteiras são ultrapassadas, esbate-se a amizade.
Aqui também está um Outono maravilhoso! :)

Isabel Seixas disse...

De facto há um certo Outono na Amizade incondicional quando uma qualquer conflitualidade enssombra a relação, depois normalmente percebe-se que faz parte e prevalece a relação esbatendo-se a parte face ao todo.

Vou fazer uma espécie de raclete à portuguesa com lombelos grelhados a acompanhar, o queijo e a batata...

Por cá está um dia lindo também, nem se sente a falta de Paris...

Carlos Fonseca disse...

Mas que história é esta de aparecer uma janela a avisar-me, antes de me mostrar a página, de que o "Duas ou três coisas" é um sítio maligno?

Sei que isso acontece quando alguém denuncia um blogue, por conteúdo impróprio, o que normalmente é feito por gente mesquinha, que pretende "vingar-se" de qualquer coisa, ou simplesmente por inveja.

Parece-me que o sr. embaixador vai ter que se aborrecer com o pessoal do Blogger, para ultrapassarr este disparate. Ou então "emigrar" (para o Sapo, ou para o Wordpress, por exemplo).

Carlos Fonseca

Cunha Ribeiro disse...

Grande POST.
Perante um problema desses vale mais fazer como Pilatos.
Mas, alto lá, a nossa consciência poderá dar uma ajudinha.
Se um dos nossos amigos se incompatibilizou com outro dos nossos amigos, vou ser amigo da minha consciência e decidir. Depois, seja o que Deus quiser.
Já agora deixava uma pergunta a quem se quiser dar ao trabalho de pegar nela: " Que fazer quando um nosso amigo tem uma mulher que nos pisa as calosidades?". Optamos pela diplomacia, ou cortamos com ELES?

margarida disse...

Para quem não dá ponto sem nó, o maravilhoso domingo outonal vem a calhar.
Que vous êtes charmant, quoi!

J. F. Borges disse...

Será que o Sol favorece a resolução dos grandes dilemas? Não existem evidências de carácter científico que nos permitam responder de um modo categórico a tal questão. Mas não nos podemos queixar de falta de luz.

Mônica disse...

Francisco
Acho que escreveu para mim
Eu morava no interior de Minas Gerais e estou em BH.
Eu quero conservar minhas amizades de 25 anos, porque sou teimosa, mas é muito custoso conserva-las, pois não tenho tempo de ligar nem de ir lá muitas vezes.
E agora ?
Agora tenho voces também para cuidar mesmo que as suas palvras sejam dificeis de entender, eu os adoro!

com carinho Monica

Fada do bosque disse...

Cunha Ribeiro,

Desculpe meter-me no assunto, mas deixa a sua esposa "calcar as suas calosidades"? Não, pois não? E se deixa, basta uma. Se o seu amigo não sabe meter a própria mulher nos eixos, às vezes saír da "diplomacia" e colocar a senhora no lugar dela, não custa nada. A rir se mudam maus costumes... porque o respeito é muito bonito, faça-a sentir isso. Se perder o seu amigo por causa disso, não sei até que ponto tal amizade é forte.

Helena Oneto disse...

O sol desta vez fez um milagre ou foi o Google que teve pena dos seus leitores?:) O importante é poder voltar aqui:)!

O comentário da Mônica é uma maravilha! D'"un coup" da a solução ao enigma e responde aos comentadores:)!

Isabel Seixas disse...

Comunhão de adquiridos mesmo amigos não é obrigatoriamente comunhão de ideias e presumo que também não será de consensos, discensos, decisões, dores de dentes, é mais ajuda a sarar a ferida se possivel servir de cicatrizante ...

Diplomacia nas calosidades!!! Eu acho melhor cuidados de Enfermagem e ou podologia, mas é só a minha opinião vale o que vale...

Carlos Fonseca disse...

Por uma razão ou por outra, passamos a vida a abandonar amigos, e a ser abandonados.

Depois de ter deixado tantos para trás, e de ser deixado por outros, parece-me que a vida é, de facto, um cemitério de amizades.

Carlos Fonseca

margarida disse...

Alturense, mas que negativismo!
Também deixei e fui deixada por 'n' pessoas "amigas", mas isso é, digamos, normal.
Existem circunstâncias que propiciam entendimentos e situações que potenciam laços, assim como outras levam ao afastamento e ao cansaço.
As pessoas mudam, a vida altera-se e altera-nos, sucede...
Permanecem sempre memórias e existem, até, ligações indestrutíveis; tal deve manter-se com emoção, mas não devemos permitir que a tristeza cerque a saudade 'boa'.
Tudo tem o seu tempo e a sua razão...
Faça um exercício: pense nos bons amigos que tem e naqueles que 'perdeu'.
O que vale mais, aqui e agora?
Ah...
;)
Anglo-saxonicamente: "Let bygones be bygones!"
E sorria, que depressa fará mais amigos!

Cunha Ribeiro disse...

Além de mágica, a FADA é psicóloga e das boas ( psicólogas...).
O conselho é bom e pertinente. Vou adoptá-lo.

Julia Macias-Valet disse...

Um verdadeiro "Estudo de Caso" !
...mas o sol também nao esteve assim tao quente que desse azo a tal rendilhado delirante sobre a amizade : ) Ou sera que esteve !? ; )

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
1. Nunca se tem uma visão correcta nem de um lado nem de outro porque cada um só vê a sua razão.
2. Aos dois amigos deve esclarecer-se que em amizade não se devem tomar opções.
3. Se entre marido e mulher não metas a colher, entre amigos muito menos.
4. Se os amigos não entenderem esta posição então têm um estreito conceito de amizade.
5. Só, de facto, razões de natureza ética podem justificar uma escolha entre duas pessoas de quem gostamos igualmente.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...