sexta-feira, julho 09, 2010

Glienicke

Hoje de manhã, no aeroporto de Viena, russos e americanos trocaram espiões. A capital austríaca recuperou um pouco do seu histórico papel de reino das "sombras", esse mundo de charneira este-oeste que fez as delícias, a preto-e-branco, da  mitologia da "intelligence", durante a Guerra Fria, como o "Terceiro Homem" bem documentou. A triste aerogare de Schwechat terá tido, assim, um momento póstumo de glória. 

É, porém, nestes dias que convém deixar a imagem da ponte de Glienicke, entre Potsdam e Berlim, onde, quando as coisas eram verdadeiramente a sério, se trocavam os grandes espiões.

Percebe-se o "frisson" que terá acometido alguns vienenses ao verem hoje chegar, a caminho de Moscovo, Anna Chapman, "from New York, with love". Mas, sejamos justos!, nada se equipara à troca do Coronel Abel por Francis Powers, em Glienicke, naquela manhã brumosa de 1962.

Como diz um amigo meu, a propósito de alguns restaurantes, isto já não é o que era...

7 comentários:

Anónimo disse...

Porventura um dos lugares mais míticos da Guerra Fria, dentro do lugar mítico que era então Berlim. Se me permite, o nome é Glienicke.
António Mascarenhas

Francisco Seixas da Costa disse...

Obrigado pela correção.

Quim Filbi disse...

Ah, senhor Embaixador...
É a segunda vez num curto período que faz reacender, nas cinzas já mornas da nostalgia de um veterano,
uma efémera e fugaz faúlha...
É verdade, isto já não é o que era.
Onde antes havia "cold warriors", cientistas, "gentlemen", infiltraram-se agora funcionários, "yuppies" e flausinas...
E Glienike! A Berlim romântica dos "honorable correspondents", do Cafe Adler e do Checkpoint Charlie...
Até os nomes de uns e outros, oficiais do mesmo ofício, tinham outra sonoridade, a sonoridade marcial e solene das marchas do John Philip: Shevshenko, Angleton, Chapman, Alger Hiss, Guy Burgess, o querido Guy.
Obrigado, senhor Embaixador; pressinto em si uma alma gémea.

Quim Filbi disse...

Dou-me conta de um lapso que atribuo não só à idade (que já vai avançada) mas também à emoção que me truxeram as memórias despertadas pelo post: entre os grandes nomes do "trade" incluo o de uma profissional recente, com ar de "starlette" de segunda e, segundo rezam as gazetas, de pouco trabalho e ainda menos resultados.
Refiro-me a Chapman (Anna) quando queria, sim, homenagear a percursora Pauline Cushman, atriz e agente, mulher de raras inteligência e beleza, Major Honorária do Exército, três vezes salva, "in extremis" da forca confederada.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Filbi

Quanto ao nome Chapman, espero que também não esteja a fazer confusão com Chapman Pincher. Tenho lá em casa quase uma dezena de livros dele, sobre os MI, 5 e 6. Duvido muito que vocês gostasse de os ler: ele não fala muito bem de si, como seria de esperar.

Já agora, se os encontrar, dê saudades, não apenas ao Donald e ao Guy, mas também ao Anthony Blunt e ao John Craincross (que vocês, espertos, mantinham escondidos do grupo). Se não fosse a língua do Gordievsky, tinham levado o segredo para o túmulo.

Um dia, "old chap", você há-de contar melhor como soube, em Beirute, que havia sido descoberto e, a partir daí, o trajeto que fez para Moscovo. E, depois, não se fazia "aquilo" ao McLean...

Quim Filbi disse...

Não, não.
Está a falar do primo Kim; esse é ramo "bife" da família, os Philby. Eu sou Joaquim Rebordosa Filbi, nascido na Pampilhosa da Serra.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Filbi: desculpe a confusão. Sendo assim, em matéria de leitura sobre "intelligence",recomendo-lhe o general Pedro Cardoso, as memórias do Rosa Casaco e do Fernando Gouveia. Na falta delas, recomendo que passe umas tardes da Hemeroteca e consulte a revista Continuidade, editada por uma instituição cujas instalações de treino, ali no início da estrada de Benfica, um bando de energúmenos em má hora destruiu.

Maduro e a democracia

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