sexta-feira, janeiro 29, 2010

Trabalho

Para começar bem o fim-de-semana, deixo-os com uma história clássica da diplomacia brasileira. Já a vi contada como se tivesse sido passada em Lisboa ou em Paris, mas sempre com um porteiro português à mistura.

Um dia, de visita a uma daquelas cidades, uma senhora brasileira decide fazer uma surpresa ao seu sobrinho, diplomata em posto. Bate à porta do consulado brasileiro e pergunta por ele. O porteiro - que tinha de ser português... - responde-lhe:

- Não está.

- E não vem?

- Não, de manhã ele não vem.

- Então volto à tarde.

- Não vale a pena, minha senhora, porque, à tarde, ele não trabalha.

Já houve belos tempos na diplomacia!

5 comentários:

Gian disse...

Já li outra versão desta história tendo como "sobrinho", no caso quem perguntava era apenas um brasileiro comum, não um parente, o poeta Vinícius de Moraes, da "Garota de Ipanema".

Anónimo disse...

Hum...Que bom ... correcção postural.

De outro ponto de vista...
Também à sua maneira o conceito de diplomacia pode gerar esse tipo de construto de diplomacia na forma de encarar com diplomacia e fair play
a dor de cotovelo de quem ganhou o direito à auto gestão.
Isabel Seixas

Anónimo disse...

Num determinado Posto onde, em tempos já idos, fui colocado, um dos primeiros despachos que recebi do meu Chefe de Missão foi o seguinte: “oiça, meu caro, há uma pequena, mas relevantíssima regra, que convém que você retenha e não esqueça nunca, a fim de nos darmos sempre como Deus com os anjos, que é a seguinte: eu durmo – sempre! – a sesta. Sempre! Nunca, mas nunca, falho uma! Assim, entre as 3 da tarde e as 6.30 estou, virtualmente, incomunicável. Você, sendo o nº 2, fica responsável, durante esse período do dia, pela gestão da Embaixada. Entendido? – isto tudo dito de forma educada e muito amável, com um sorriso.
Quando lhe perguntei se porventura alguém de Lisbosa telefonasse e quisesse falar urgentemente com ele, respondeu-me: “diga que não estou, ou fui a uma reunião, mas não me telefone – nunca! – para casa a acordar-me! Tudo pode esperar! Percebeu?”
E assim foi. Cumpri à risca aquela bizarra instrução e tivemos um excelente relacionamento. Um dia porém, “caiu-nos em cima” um Telegrama de Lisboa (MNE), ou seja, o meio como entre o Ministério e as Embaixadas se comunica, genericamente, que nos transmitia a vinda do então Ministro dos Negócios Estrangeiros áquela capital, por uns 3 dias, numa visita oficial. Levei-lhe a dita comunicação e recordo-me bem, ainda hoje, como reagiu. Ficou, uns bons minutos em silêncio. Percebi a sua irritação controlada. Até que disse: “e, com isto, lá se vão três dias sem sesta! Uma maçada! Só me faltava esta! Meu caro, após o 25 de Abril, querem é passeio. E estava eu aqui no meu cantinho, com você a trabalhar aqui comigo respeitando a minha digníssima sesta e cai-me agora esta maldita visita em cima! Sabe? Vou andar completamente grogue, sem sesta não funciono bem. Para você perceber a importância dela no meu organismo e metabolismo, já faço a sesta desde os meus 16 anos e mesmo em lua-de-mel nunca interrompi!”.
Um dia mais tarde, contou-me numa 2F de manhã que tinha tido um fim-de-semana azarado. “Então porquê Embaixador?”- perguntei-lhe. “Veja lá bem! Estava eu a dormir a minha sesta no Domingo, quando, exactamente a meio, portanto no pico dela, me tocam à campaínha da Residência. Como ao Domingo dispenso o pessoal, tive de ir abrir. Vislumbrei pela janela, primeiro, e vi um grupo de pessoas. Quando abri a porta, constatei ser um grupo de compatriotas saudosistas da Pátria. Perguntei-lhes o que desejavam e responderam-me que, ao passar ali, vendo a bandeira e o nome da Embaixada, quiseram cumprimentar o Embaixador. Como tinha descido em pijame – sim, levo a sesta a sério, durmo assim –, de chinelos e roupão, inventei, á pressa, uma desculpa dizendo que ele (eu) não estava, mas que deixaria a mensagem. E quando quiseram saber quem eu era, disse-lhes que era o porteiro. Mas olhe, depois já não consegui dormir mais! Uma chatice!”Uma pessoa simpatiquíssima, mas devoto da sesta.
Adido de Embaixada

Helena Sacadura Cabral disse...

Todas as carreiras têm as suas "estórias". Mas estas são uma delícia. E, pese embora, as "fraquezas humanas" que algumas revelam, somos também nós que estamos nelas!

DMM disse...

Essa história também está contada num documentário que está no you tub, pelo Toquinho, como tendo acontecido com um grupo de brasileiros que foi visitar o Vinicius à Embaixada Brasileira em Paris, julgo que da UNESCO, e o porteiro português terá dado essa resposta...

Segui essa versão neste post...

http://omundoemvoltad.blogspot.com/2010/01/vinicius-de-moraes-do-homem-dos-vicios.html

Este é o documentário
http://www.youtube.com/watch?v=yxMe1FajTzk&feature=related

DMM

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