quarta-feira, janeiro 20, 2010

Futebóis

Há dias, o "Blogue" de Marcelo Rebelo de Sousa publicado pelo "Sol" (semanário que, aqui a Paris, "llega quando llega"), recordou uma historieta clássica da relação luso-brasileira, que não resisto a registar, com a devida vénia.

Estávamos em Março de 1975, tempo "quente" e revolucionário da política portuguesa, com Vasco Gonçalves como primeiro-ministro de Portugal. No Brasil, a ditadura estava em pleno, com Ernesto Geisel na presidência. Enfim, época forte para os militares de ambos os países, embora de sinal bem contrário. Por isso, um ambiente de alguma tensão nas relações bilaterais, em que cabia ao embaixador português, Futscher Pereira, usar toda a sua conhecida genialidade diplomática para acalmar as hostes locais.

A seleção portuguesa fora convidada para disputar contra o Brasil o jogo inaugural de um estádio, numa cidade não muito distante de Brasília. Embora formalmente "amistoso",  o jogo acabou, a certa altura, por gerar um incidente: um jogador português lesionou-se e foi substituído. Minutos depois, aparentemente por confusão, o mesmo jogador reentrou no jogo. Portugal jogava, assim, com 12... O árbitro apercebeu-se e encetou um longo e ácido "bate-boca" com Pedroto, então treinador português. A nossa equipa começou a ser apupada por todo o estádio e o anedotário lusófobo deve ter sido escasso para alimentar a expressão do desagrado do público local. Pedroto pretendia que a sua equipa abandonasse o terreno de jogo. Marcelo Rebelo de Sousa (à época, membro da direcção da Federação Portuguesa de Futebol, para quem não saiba) e o seleccionador Abílio Rodrigues conseguem evitar o que seria um escândalo. Mas não conseguem evitar que os brasileiros, na ressaca da irritação, cancelem a receção em honra dos representantes da "mãe pátria".

A vida não ia então fácil para as relações luso-brasileiras. Para a história, Portugal perdeu o jogo, o que terá acabado por atenuar o desfecho do incidente.

33 anos depois, também na inauguração de outro estádio, também perto de Brasília, também num jogo amigável, Portugal voltou também a perder - desta vez por uns esmagadores 6-2! O embaixador português era outro, não ameaçámos abandonar o terreno de jogo, não houve incidentes diplomático-protocolares, mas, podem crer!, a noite também não foi fácil para quem então representava Portugal no Brasil. E se, em 1975, jogámos com um dúzia, fiquei com a sensação de que, dessa vez, jogámos apenas com meia-dúzia... É que houve jogadores que não cheguei a "ver" em campo. Valha-nos o facto de, agora, as relações bilaterais serem excelentes.

7 comentários:

Anónimo disse...

E estou para ver o encontro entre Portugal e Brasil na África do Sul, no nosso Grupo! Nem Cristiano Ronaldo nos irá aguentar!
Albano

Carlos Falcão disse...

6 a 1 !...

Francisco, imagino!
Têr de fazer cara linda...

Cordialemente

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

É verdade para enfrentarmos o Brasil na África do Sul precisamos de uma excelente preparação competitiva, de rasgos geniais de alguns dos nossos atletas criativos ou combativos, da boa forma do "levezinho", de ter sorte e de Carlos Queiroz implementar espírito de sacríficio e de equipa em todos os convocados. Ah! E já agora nada subestimável será o apoio do verdadeiro 12º jogador...neste caso a importante comunidade de emigrantes portugueses residentes na África do Sul e nas regiões circunvizinhas!

Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

José Barros disse...

Não sabia que o futebol também podia elevar pessoas a altos postos da política! Viva o Pinto da Costa, viva o Pinto da Costa, Viva o ...

Anónimo disse...

Interessante, interessante é ir ouvir as escutas do apito dourado no site do Record - ouvi-las todas - e perguntar porque ninguém foi ainda para a prisão!!!

ARD disse...

Como se diria do outro lado do Atlântico,"deixe p'ra lá, Embaixador".
A Selecção ´não foi, nessas noites, "a Pátria em chuteiras" mas sim "Portugal, meu avozinho", tropego ou malandreco.
Na àfrica do Sul, podemos reviver 1966 e dar um banho de bola aos "minino".

Voz do Seven disse...

"... a noite também não foi fácil para quem então representava Portugal no Brasil..." nem para quem, sozinho no meio de meia-dúzia de feras gozonas, assistia via tv.
Com Durban no horizonte, por vezes ainda me fazem [as tais feras gozonas] penosamente recuar à mais triste das noites que os meus sete anos de São Paulo já conheceu.
A vingança será terrível, penso eu de que...
Saudações
Neves, AJ

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