segunda-feira, setembro 28, 2009

Nova sociedade

Uma das mais instrutivas experiências para quem, como eu, vive fora de Portugal é deparar com um novo e totalmente desconhecido mundo social-mediático, por vezes indecifrável.

Há umas revistas, que começam logo a ser-nos "servidas" nos aviões, onde somos abalados (e aqui invento nomes, claro) por títulos desta estirpe: "Mónica Leal encontra um novo amor com Ricardo Teles, depois da separação de Miguel Dias". Ou então: "Gravidez de Isabel Damas interrompe a sua carreira, reforçando a ligação com Telmo Soares". Os cenários de fundo variam, com as festas a dominarem no Verão, discotecas ou ambientes familiares sempre, algumas fotos de paparazzi paroquiais à mistura, mas as mais das vezes com poses consentidas e aparentemente procuradas.

Todas estas excitantes revelações são acompanhadas de imagens ilustrativas, embora os respectivos textos considerem quase sempre dispensável, por óbvia desnecessidade de que só alguns ignaros reclamam, dar-nos mais elementos sobre quem são, na realidade da vida, tais figuras. Às vezes, lá se consegue, pelo cruzamento de algumas escassas referências, perceber o que fazem as personalidades dessa nova sociedade: quase sempre moda e televisão, com alguns jogadores de futebol à mistura. E, de quando em vez, há pelo meio uns empresários de camisa aberta até ao terceiro botão.

Podem crer que, para um diplomata, é angustiante: ter a percepção de não conhecer um tão importante sector do país que representa!

11 comentários:

Santiago Macias disse...

Essa angústia não é exclusivo dos diplomatas. Quem vive a tempo inteiro nos limites do rectângulo (ou ilhas adjacentes, para usar uma deliciosa expressão há muito esquecida) também se interroga todos os dias sobre quem são e o que fazem tão distintos compatriotas...

Anónimo disse...

Ora aqui está um Post que aborda um tema interessante. E pertinente. A diferença reside em que FSC toca no assunto de forma habilmente diplomática. Na verdade, muita gente acha que esta “novel socialite” é patética, ridícula e presunçosa. E “nova-rica” (cultural e económica). Mas que a “coisa” tem sucesso de vendas é indiscutível. É caso para se dizer também, que é revelador do nível cultural de quem compra. Sim, porque quem compra quer “estar a par” e oportunamente “contar o que sabe” a quem desconhece! E, curiosamente, é cada vez mais transversal, socialmente falando, hoje em dia. E até há já programas nas TVs sobre a “matéria”, com reportagens sobre como passam as férias (sobretudo no Verão) essas “excelsas” figuras desse “extraordinário universo social”, etecétra e tal. Vamo-nos, aos poucos, imbecilizando, alegremente. Vamo-nos, alto lá, vão uns tantos. Outros ainda não!
Albano
PS: essa observação das camisas abertas até ao 3º botão é hilariante (que já não revelam, como noutros tempos, um peito hirsuto, mas, pelo contrário, um outro mais delicado e “plastificado” em ginásios. E devidamente depilado. Como convém. Moda é moda!).

anamar disse...

E, o mais admirável, é que as pessoas compram as ditas revistas, sem conhecer esses colunáveis rosa/azul, tão "exemplares" pelas razões óbvias das suas aparições..., como modelos a seguir...
São representativos da inutilidade e do complexo de inferioridade de uma certa camada deste pequeno rectângulo.
:))

José Barros disse...

Acho que não devemos brincar com coisas sérias! Aquela gente é indispensável para levar alguma esperança aos que porventura tenham razões de desesperar e, ao mesmo tempo, ao mostrarem as suas insuportáveis infelicidades ilustram o quanto insignificante se tornariam as lamúrias de quem sofre na miséria em comparação ao desgosto pela unha partida da vedeta que nem sempre é reembolsada pelas asseguradoras ao justo valor daquele prejuízo.

ARD disse...

São coisas frívolas mas embora não sejam cartas de amor.
E não são completamente incompatíveis com a diplomacia.
Tenho a certeza que V.Exª. se lembrará de um ilustre MNE que aproveitava longas viagens aéreas nocturnas para ler com atenção as novidades do estranho mundo das celebridades pimba.
E não desdenhava emitir eventuais comentários (aliás, judiciosos) sobre alguma polposa cançonetista habituée das tournées estivais ou sobre enlaces matrimoniais particularmente interessantes ou sobre êxitos musicais do reportório nacional-cançonetista.
Em tudo se pode aprender alguma coisa.

Alcipe disse...

Meu caro, estás a esquecer as tuas obrigações como embaixador de Portugal no Mónaco: que se passa afinal entre Carolina e Ernesto de Hohenzollern? Isso é que são questões relevantes para um diplomata, desculpa o remoque...

Anónimo disse...

Nao conhece um tao importante sector do pais que representa ?
E AINDA BEM !

Mais, eu penso que nas casas deles devem-nos conhecer...

Julia Macias-Valet

Margarida Vaz disse...

Acontece-me olhar ou folhear tais revistas, nas salas de espera de um medico e outros sitios no genero! Nao preciso ler, elas nao estao la para isso! apenas para passar o tempo!
Quem as olha? todos nos! Quem absorve o que la vem isso ja é outra coisa!

Pessoas ha, que por razoes que so a vida sabe, nao tiveram a possibilidade de ter acesso a um pouco mais de cultura. Por essa razao vao ao que é de mais facil acesso e leitura.

Outras ha que para esquecer um pouco os problemas da vida, pensam que se projectando noutras vidas o tempo passa melhor! depende como é feito!

Mas tudo isso nao é exclusividade nacional.
Acontece no nosso Pais e neste onde vivemos, penso que acontecera noutros que desconheço.

O mundo é feito de um pouco de tudo, o principal é nao haver exageros.
Comparo isso com o temperar um prato, se pusermos muito sal ou muita pimenta, claro que o sabor nao vai ser nada bom!
Deve-se encontrar a boa medida...

Anónimo disse...

Tendo eu estado em posto em Luanda, há uns anos atrás, um dia a minha empregada diz-me assim: "Dótor: o dótor conhece a d. lili caneças ? Confesso que fiquei atarantado. Lá disse: "não, quer dizer, só das revistas". E como fiquei imobilizado de chávena de café na mão a olhar para ela, lá me justificou: "é uma senhora tão bonita, tão elegante, gostava tanto de a conhecer. Eu tb. só a vi nas revistas".

Depois de voltar à realidade, pensei que a minha empregada era um case-study sobre o impacto do nosso soft-power no espaço lusófono. Porque quando me falam de lili caneças ao pequeno almoço em luanda, é disso que se trata: soft-power. Por isso, Senhor Embaixador, é melhor não desvalorizar o fenómeno...

Helena Oneto disse...

Cada um tem a jet set que merece...

José Martins disse...

E um dos (muitos) culpados destas "misérias" humanas é o cronista e criador de imagens de marca o Carlos Castro!
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Conhecem-no por aí?
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A mercadoria (revistas) vendem-se como "queques" e alimenta ilusões das cabecinhas choças e balofas.
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E os velhos, que criticamos, não passamos de uns botas de elástico.

Fora da História

Seria melhor um governo constituído por alguns nomes que foram aventados nos últimos dias mas que, afinal, acabaram por não integrar as esco...